25 de dezembro de 2008

O “IN-GRAXADO” QUE VIVE EM MIM

Por Riva Moutinho


“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?”
(Romanos 6:1)

“E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça?”
(Romanos 6:15)

Uma das definições que a geometria espacial dá de espaço é: “tudo o que nos envolve e é o local onde podemos nos mover para a frente, para o lado e para cima.” Parece ser muito complicado definir o que seria o espaço, mas todos entendemos o que ele representa para nós. Todos querem ter o seu espaço, todos gostam de ter seus espaços respeitados e muitos gostam de expandir o seu espaço, enfim, às vezes queremos muito para muito, pouco para muito ou muito para pouco. São regras quase sempre egoístas.

Toda sociedade busca delimitar os espaços daqueles que a compõem com o objetivo de manter a ordem e os direitos individuais respeitados, dentre outras coisas. E assim eu e você convivemos num espaço emaranhado de conceitos, regras, leis... É fato que para mantermos algum tipo de organização é necessário definirmos um mínimo de normas, a fim de mantermos uma ordem. Imagine se para o trânsito não existisse aquele livrinho de legislação dizendo o que deve e o que não deve ser feito.

Quando trazemos este mundo de regras à luz do Evangelho, percebemos que o seguir Jesus não é um monte de conceitos e regras, rituais e ritos. À luz do Evangelho a engenhosa organização humana se esfarela e nos leva a um ponto importante e crucial na vida de cada um de nós: o amor.

Mas não digo do amor humano que muito das vezes só sobrevive se tiver o desejo de posse saciado ou que se contorce na obsessão de desejos contínuos e, muito das vezes, doentio. Não digo do amor humano que cria conchavos a fim de saciar seus planos ou, é tão condicional, que no mínimo tempo que vier a existir a unilateralidade morre por suicídio.

Falo do amor de Deus ou do Deus Amor, pois Deus é Amor. Daquele que mesmo sendo o Todo-Poderoso, espontaneamente, decidiu criar seres à sua imagem e semelhança e se “agarrar” a eles com um sentimento capaz de resistir a tudo e de oferecer a vida de seu único filho para salvar ou libertar aqueles que nem sequer lembram Dele, ou que se iram com Ele por causa das adversidades normais da vida, ou ainda aqueles que acreditam que O amam, mas diante do olhar profundo do Pai, se percebe a máscara do cinismo proliferado.

Quando o Pai rasga o “manual religioso da salvação” e derrama sobre todos o sangue de Seu filho, a noção de espaço individual parece se perder em meio a um mundo cheio de possibilidades, desejos, oportunidades, anseios, perspectivas... Afinal o cárcere da Lei foi derrubado e “entramos” na era da Graça.

A alteração da noção do “nada podia” para o “tudo posso” demonstra bem o que a natureza humana produz como entendimento e não como verdade revelada. Demonstra claramente como somos capazes de liberarmos, com uma naturalidade incrível, os desejos mais trancafiados existentes em nossos corações e mente.

Nas duas perguntas citadas no início deste texto na Epístola aos Romanos, Paulo responde a fim de orientar aos romanos de sua época: “De modo algum!” E isto tem uma razão simples: Se antes eu e você éramos dirigidos pelo peso da Lei que impunha o que deveríamos ou não fazer, hoje a Graça, que é fruto do amor do Pai, nos superabunda de tal maneira que o amor incondicional que recebemos torna-nos o doador deste amor incondicional e assim, por simplesmente amar, nos matamos para o mundo e vivemos para Deus. Veja bem: Me mato para a proliferação da maldade existente no mundo e vivo para a disseminação da paz. Me mato para a natureza má que tenta me consumir todos os dias e vivo me convertendo a Ele a cada novo dia. Assim, o velho passa, o novo se faz presente e o fardo torna-se leve.

No entanto quando a Graça é usada como meio para justificar a liberdade de se fazer algumas coisas que antes a Lei e a culpa impediam, transforma-se em GRAXA. E é graxa mesmo! Aquela que apenas lubrifica, que se torna apenas um meio para se fazer ou conseguir algo. E de graxa o mundo também está cheio. Afinal o oposto do fariseu não é outro senão o “in-graxado”.

E neste “novo” “modelo” humano o espaço perde diversos limites, bem como perde o essêncial: a Vida que gera vida. O “in-graxado” não ora em voz alta, não é rigoroso com dízimo, não estabelece o templo como algo sagrado pra si, no entanto, não ama o próximo, antes permanece dando lugar a sua natureza humana egoísta. Ele não realiza nenhum tipo de corrente e nem participa de nenhum dos chamados cultos de libertação, mas permanece sem conhecer o Evangelho que diz seguir. Ele não critica Jesus por curar aos sábados, mas se delicia com o prazer de ter os seus pecados perdoados antes mesmo de cometê-los e por isso pratica-os na certeza humana e míope da inconseqüência. O “in-graxado” critica o fariseu, mas se esquece que os espelhos são os mesmos, apenas os ângulos mudaram.

A pergunta de Paulo no versículo 2, no capítulo 6, de Romanos: “Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” Poderia ser feita de outras maneiras: Como viveremos amando nossa natureza má se ela já foi crucificada com Cristo?”, ou “como viveremos ainda formatando falsas desculpas para nossos atos, se a Graça escancarou a realidade fétida do nosso interior?”, ou “como viveremos seguindo a direção do mundo, se o mundo ao qual vivemos, por já pertencer ao maligno, permanece assassinando aquele que nos dá a Vida?”

Amados, a vista de tudo, a Mensagem de Cristo nos leva ao equilíbrio que só pode ser produzido por uma mente consciente na Verdade do Evangelho.
Assim, permanecei-vos na consciência do Evangelho o qual produz discernimento para nossas mentes e corações a fim de não cairmos no engano do mundo, nas artimanhas daquele que sempre se declarou inimigo do Pai.

BH 23/12/2008

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