5 de outubro de 2007

Teus altares

Por Jorge Camargo

O Salmo 84 é um de meus textos preferidos das Escrituras. De sua leitura constante até a canção foi um salto.

O ano em que escrevi essa melodia, coincidentemente, foi o de 1984.

Lembro-me vividamente de estar sentado sobre o tapete da sala que também havia sido meu quarto por muitos anos. À medida que a melodia se encaixava na harmonia simples, a emoção aumentava, e lágrimas corriam por sobre a minha face.

A batida que eu utilizava me fazia lembrar “Meu Bem Querer” do Djavan, que fazia muito sucesso na época, inspiração que eu a principio rejeitei. (Bobagens estéticas e religiosas – a música do Djavan é tão linda e inspiradora quanto o Salmo).

Meus pais, de origem humilde, abrigaram minha avó materna, dona Olga, uma mulher de olhos claros, azuis como o mar de Maceió, de gênio forte, marcada pela dor e pela luta, filha de italianos, ex-funcionária de fábrica no tradicional bairro do Brás em São Paulo, por muito tempo reduto da comunidade italiana da cidade, e que até os 35 anos havia tido 10 filhos e perdido oito deles antes dos dois anos de idade.

Como morávamos os quatro em uma casa de apenas um quarto, minha avó e eu repartíamos a sala.

Ela em sua cama, eu no sofá.

Foi assim até sua morte em 1980, quando eu tinha 17 anos. A partir de então, ganhei meu quarto-sala, espaço onde nasceram minhas primeiras canções, e a adaptação desse Salmo.

A linguagem piedosa do texto, “o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo”, “mais vale um dia nos teus átrios do que mil nas tendas da perversidade”, “porque o Senhor Deus é sol e escudo, o Senhor dá graça e glória, nenhum bem sonega aos que andam retamente”, cativou meu coração.

Durante muito tempo quis ser como o salmista, como se isso fosse possível.

Eu ainda não havia lido “...o qual passando pelo vale árido...”.

Hoje esta é a parte do Salmo que mais aprecio. Ela faz com que eu me sinta mais conectado com o personagem, e com o texto como um todo.

No ano seguinte (1985), passei a conviver regularmente com o Guilherme (Kerr), que escreveu a adaptação da terceira estrofe (Pois o Senhor é sol e escudo). O resto, é história.

Talvez seja minha canção mais conhecida Brasil afora, e uma de minhas preferidas.


Jorge Camargo,
Intérprete, compositor, músico, poeta, tradutor e Mestre em Ciências da Religião.

1 comentários:

Anônimo disse...

publicar que a musica de Djavan é tao inspiradora quanto o Salmo é uma enorme blasfêmia. Minha opinião não é religiosa pois abomino a religião mas amo aao Senhor Jesus. Nada é tão inspirado do que aquilo que vem do Espírito Santo, por favor tenha estas opiniôes somente para você e nunca publique estas coisas que podem influenciar pessoas novas na fé.

 
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