13 de agosto de 2007

A Graça é também para os "imperdoáveis"

Por Carlos Bregantim

Há pecadores que são sempre bem-vindos nos ambientes religiosos. Os que são definidos como vitimas. Os ofendidos, os feridos, os traídos, os excluídos, os fracos, ou melhor, os que não suportaram uma tentação e caíram. Os que se envolveram em situações e circunstâncias que não queriam, isto é, foram de uma forma ou de outra, seduzidos, enganados, ludibriados, enfim, caíram numa espécie de armadilha. Estes pecadores estão naquela classificação dos perdoáveis, afinal, o que fizeram ou não fizeram, não foi deliberado. Não queriam, foram forçados a fazer, ou não fazer. Todos olham para estes com compaixão e com disposição a perdoá-los.

Normalmente eles trazem em suas feições, as expressões de quem foi acometido por algo ruim. Estes estão na maioria das vezes dispostos aos conselhos, às disciplinas, pois, seus pecados, são pecados tidos como comuns. Todos estão sujeitos a eles. E é impressionante o poder que tem estes pecadores que são tidos como vitimas. O poder de acusação de uma vitima é mortal. Estes pecadores recebem solidariedade, consolo, cuidado, e, claro, nada mais do que justo que estes sejam tratados assim. Geralmente os recursos de uma comunidade Cristã são todos destinados a estes pecadores perdoáveis, mesmo que, estas vitimas, nem sempre sejam tão vitimas como aparentam.

Agora, há uma casta de pecadores tidos como imperdoáveis. Na verdade, estes são os que provocaram os danos, os males, que fizeram dos pecadores perdoáveis, as vitimas que são. Os imperdoáveis são os que ofendem, os que ferem, os que traem, os que excluem, os que conseguem se camuflar, iludir, driblar, esconder, enfim, são os provocadores de dores em muitos. Entre estes imperdoáveis, estão todos os que quebram os padrões da sociedade, as leis, as regras, e o fazem deliberadamente. Entre estes também estão os que vivem uma vida dissoluta, perdidos em seus próprios auto-enganos, com seus medos, seus dramas e traumas pessoais, com suas almas confusas. Os imperdoáveis são aqueles que raramente recebem um apelo amoroso para o arrependimento, pois, entre estes estão, os criminosos mais cruéis, os políticos mais corruptos, os profissionais mais inescrupulosos, os religiosos mais cínicos, ambiciosos, gananciosos, e cheios de falácias. Sim, entre os imperdoáveis estão todos os que nenhum de nós convidaria para jantar em casa e nos escalaríamos para jantar em suas casas. Entre eles estão mulheres que só entrariam pelas portas dos fundos. Homens que jamais seriam inscritos nas rodas de gente de bem. Sim, há uma casta de pecadores que se depender da justiça das comunidades cristãs. Se depender dos ambientes puros de algumas celebrações, jamais receberão um convite ao arrependimento, ao perdão. Muitos destes, jamais entrariam em algumas de nossas comunidades, pois certamente se sentiriam pior do que já se sentem, pois, nosso ambiente de pureza os constrangeria.

Às vezes penso que os imperdoáveis continuarão imperdoáveis, pois, não é tão complicado acolher vitimas deles, mas, acolher os que provocaram dores, é muito difícil.

Temos um problema, pois, o Caminho da Graça, como mensagem e não como um grupo a que se pertença, é para todos e isto inclui estes tais imperdoáveis. O Caminho da Graça como uma Pessoa que é, é para os que não conseguiram se livrar de alguns males e continuam a provocá-los. O Caminho da Graça, como gesto radical de Deus em nosso favor, é para os que não poderiam cantar em coros oficiais. O Caminho da Graça é para quem não poderia ter a vida publicada. O Caminho da Graça é para todos e isto inclui os que não seriam incluídos em nenhum rol de membros de uma comunidade cristã normal. O Caminho da Graça é para todos e isto inclui os piores, os insubordinados, incorrigíveis, rebeldes, sim, todos estes que, em sendo confrontados com o evangelho da graça podem ter a única oportunidade na vida para se corrigirem e voltar aos braços do Eterno.

Sim, penso que a Graça é para "os que não sabem o que fazem", mas também para Pedro: "antes que o galo cante três vezes, tu me negarás". A Graça em seu Caminho, é também para aqueles que negaram sabendo a quem negariam. Ademais vemos as marcas dos pés da Graça em direção de Paulo, que, perseguindo os do Caminho, encontrou-se neste, com aquele que deveria matar: a vida, mas, matou a morte no Caminho da Graça. Enfim, a Graça se encontra com o que não sabe, com o que sabe e com aquele que se fia no saber acima da Graça. Diríamos então que a Graça super-abundou onde abundou o pecado.

Somente quem é deixado à margem da Lei pode ser agraciado com o nome de bom samaritano, isto é, somente quem foi incluso como próximo marginal de Cristo, pode olhar para o machucado como próximo do Cristo que vive em nós. Sim, é o amor da comunidade do Caminho da Graça que os constrangerá ao arrependimento. Sim é a graça escancarada, escandalosa que os seduzirá ao amor do PAI. Sim, é o perdão dado sem merecimento. Sim é a graça manifesta sem condicionamentos. Sim, os imperdoáveis no Caminho da Graça se sentirão alvos de compaixão, misericórdia e acolhimento. Sem nada em troca. Sem nenhuma barganha. E isto quantas vezes for necessário. Sim, sempre ou até que o Cristo de Deus volte e inaugure um novo tempo. Até lá, a Graça é para todos. Não há acepção, nenhuma, nunca, esta é a lei da Graça, a lei do amor, a lei do perdão, a lei que impera no Reino do Filho do Seu Amor.

É interessante e, claro, também intrigante, ver como Jesus lidou com estes imperdoáveis. A todos acolheu sem distinção. Os leprosos que deveriam ser denunciados, mas, correram para Jesus, pois, sabiam que aquele Galileu não os denunciaria. Ele os acobertaria e os curaria. As mulheres marginalizadas, excluídas, sem vez e sem voz, nEle encontraram mãos acolhedoras. Os publicanos, rotulados, estigmatizados receberam sua visita. Os enfermos, coxos, paralíticos, cegos, gente de segunda e terceira categoria, dEle receberam graça. Paulo, o perseguidor assassino se torna o grande missionário entre os gentios. Se olharmos com carinho e cuidado nas páginas das escrituras sagradas, descobriremos que Deus acolheu os imperdoáveis, tipo; incestuosos, pedófilos, assassinos, patricidas, fraticidas, impuros, rebeldes, zombadores, adúlteros, corruptos, gente da pior espécie, sim, gente que em nossas comunidades jamais seriam aceitos como membros. Jamais tomariam a Ceia. Jamais ensinariam em nossas escolas e seminários. Gente desclassificada, sim, tidas como imperdoáveis.

A Graça é para os chamados “malas sem alças” , isto é, gente que ninguém quer por perto. Gente que ninguém convida pra comer pizza depois das reuniões das comunidades. Sim, a Graça acolhe gente que não seria acolhida em nenhum lugar e por ninguém. Gente chata. Gente inconveniente. Gente presunçosa, arrogante, altiva, sim, gente que pensa que é o que não é, ou é exatamente o que diz que não é. A Graça acolhe os maldizentes, fofoqueiros, os que se aproximam com segundas intenções, sim é isso a Graça é assim. Enfim, a Graça acolhe a mim e a você.

Afirmo que é assim e que só assim é possível que estes, tidos como imperdoáveis caiam em si. Sim, é expostos à Graça que eles sofrerão o toque desesperado do amor de Deus e terão a oportunidade de arrependimento. Sim, expostos à Luz que suas agendas secretas virão pra cima da mesa. Sim, expostos à Graça é que ganharão a noção do amor. Nem que seja no ultimo segundo de suas vidas, sim, depois de serem perdoados incondicionalmente perceberão e se renderão ao apaixonado Deus que nos deu Jesus, que é o absurdo da Graça, sim o escandaloso amor encarnado e vitimado na Cruz de braços abertos dizendo: “PAI, PERDOA-LHES, PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM”. E esta é minha oração de maltrapilho, “Pai, sim, este sou eu, isto é, o que não sabe o que faz. Sim, Pai, este sou eu o que faz o que não deveria fazer. Sim, Pai, este sou eu, atingido pela oração do Seu Filho Amado. Sim, e por isto, sou grato e nada mais, pois, nada posso fazer para pagar este amor. Ajude-me a recebê-lo e vivê-lo na vida, na minha e a na de muitos. Pai, que o Caminho da Graça seja sempre esta mensagem e nunca um lugar apenas. Pai, que nossos encontros como Caminho da Graça afirme esta verdade e que cada encontro de um caminhante da Graça se transforme neste lugar seguro de acolhimento na presença amorosa do Pai Eterno.


Graça, paz & bem a você e sua casa.


Bjs com carinho.

Inverno/2007

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Carlos Bregantim é mentor do Caminho da Graça - Estação São Paulo/SP

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