27 de junho de 2007

Mediunidade eletrônica

São tantos espíritos falando em nossos ouvidos ou nos escrevendo mensagens ou enviando recados, que já não se consegue ouvir a voz do próprio coração; e, muitos menos, a voz do coração dos outros.

Nunca o mundo ofereceu tantos meios e modos das pessoas se comunicarem, e, apesar disso, nunca antes as pessoas se entenderam menos.

Meu avô João Fábio e minha avó Josefina namoraram seis anos por carta. Depois de um namoro presencial de alguns meses, ele disse a ela que o esperasse, pois, ele estaria indo ao Amazonas trabalhar no Seringal do pai, e, depois que ganhasse certo dinheiro, voltaria com certeza; o que veio a acontecer somente seis anos depois.

Mantiveram o amor vivo através de cartas. Sim! Vivo por cartas e caráter. Vivo pela certeza da palavra simples e clara, falada por um homem inteiro — “Eu volto!”

Hoje ninguém mais consegue imaginar tal coisa.

Se o celular não atender, alguém pode estar traindo. Se o Pager não retornar, alguém está nos evitando. Se a pessoa de quem se gosta não ligar o tempo todo, não está amando.

Cartas? Quem ainda as espera sem ser como cobrança de serviços prestados?

De fato, hoje em dia, todo mundo sabe tudo sobre meios de comunicação (do celular ao computador conectado à Internet, com todas as avenidas de interação que se abrem...) — embora o pior mal relacional desta geração seja comunicação.

Sim! É tanta informação; são tantos apelos e distrações; e é tanta instantaneidade; — que as pessoas não têm nem mesmo tempo de processar o que é real e de quem é tal realidade; pois, são tantas as interferências e interações; e são tantos os impulsos e as induções; que, ao fim de um dia, a pessoa já nem sabe que dia foi aquele; e que soma de emoções é aquela que nela se amontoa sem nome e sem sentido, porém, gerando intensa inquietude, pressa, e um permanente impulso para fora...

O que vejo é muita gente plugada o dia todo, na NET, no Orkut, nas redes de relacionamento; ou mediante o uso de celulares — como se fosse uma espécie de audição-extra —, a fim de ouvirem todos os espíritos que desejem se comunicar com os “médiuns” que possuam o dom globalizalizado da “psicofonia”.

É uma legião de espíritos de todos os tipos fazendo contato. De espíritos de amigos aos espíritos dos fantasmas do telemarketing das empresas de comunicação invisível e ambulante.
A existência hoje é feita de mediunidade eletrônica o dia inteiro.

E como se recebe espírito ruim no exercício desse dom da psicofonia!

São espíritos de distração, de ocupação desnecessária, de preocupação, de invasão sem aviso, de demandas tolas, de estresses fabricados, de mudanças de emoções sem que se note, de fofocas perversas, de infâmias, de compartilhamento do pior; e de muita paranóia praticada como “cuidados” conjugais, paternos, maternos, fraternos, etc. — tudo isso pela via mediúnica da Psicofonia.

Não é possível manter a mente sadia sob os fatores de interferência, indução, invasão, proposição mental e emocional, que os meios mediúnicos eletrônicos criam para a alma humana.

Legião é o nome de todos nós!

Ora, sob o poder da fragmentação que tais invasões geram nas almas humanas, ninguém pode aprender a paciência, aprende-se a co-dependência; ninguém mais tem tempo para esperar, pois, quem não se comunica [logo] se estrumbica; e ninguém mais tem alma para a paz, pois, o que é paz, a alma viciada no imediato e na pressa, chama de sentimento improdutivo e perigoso.

Afinal, o sucesso deste mundo é movido à base de angustia, pressa, insegurança e medo.

Psiu!

“Aquietai-vos e sabei que Eu Sou Deus” — é a Voz que ainda nos pode salvar pelo descanso, pela confiança, pela paz, pela espera, pela paciência, e pelo amor que não aceita o domínio das forças da morte que se disfarçam de avanços ou de modos indispensáveis à vida.

No entanto, como está, com tantas vozes, tantos espíritos, e tantas entradas que oprimem sem aparecer; e mais: com essa Babel de emoções e de informes sem tempo de serem verdade para quem os expressa — fica muito difícil imaginar qualquer projeto de saúde mental; pois, nossa mente não foi feita para este mundo como ele se tornou.

Sim! O mundo que criamos é o anti-mundo em relação a Deus e ao sentido da Vida!

A mente que cria o que ela mesma usa; mas, também tem o poder de criar aquilo que para ela mesma poderá ser insuportável e profundamente auto-destrutivo.

A inteligência humana para criar é muito maior do que sua própria capacidade de suportar a existência sob muitas de suas criações.

Quem é sábio, ouve, lê, pondera; e, então, toma as providencias não radicais da sabedoria, que consistem em examinar todas as coisas e discerni-las; e, depois, usá-las de modo bom, sempre as tendo ao nosso serviço e conforme o que seja saúde-de-tempo, segundo Jesus ensinou que fosse saudável em circunstancias de total invasividade, como aconteceu no Seu tempo entre nós.

“Vinde a um lugar solitário repousar um pouco” — disse Ele aos Seus discípulos em razão de que eram muitos os espíritos humanos que iam e vinham, e que desejam contato com Ele ininterruptamente.

Entender isso é proteger a própria alma!

Nele, que nos chama à Sua quietude, para o nosso bem e salvação,


Caio

22/06/07
Lago Norte

Brasília

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